16 de mar. de 2010

Sabe quem é aquela loira que canta bem?

Gabriela Baldan

Outro dia qualquer conversava com uma amiga sobre a beleza e o talento. Ouvíamos Mind Body and Soul, primeiro cd da cantora inglesa Joss Stone. Será que se ela fosse feia faria tanto sucesso? Então me peguei a procurar na memória exemplos de pessoas que não se encaixam no padrão atual de beleza e que fazem sucesso. Não estritamente no universo da música, mas principalmente no universo da aparição midiática.

Aquele que mais rápido veio à mente foi Mick Jagger, do Rolling Stones. Depois o Slash, do Guns N’Roses (banda esta que fez um show aqui em São Paulo no último sábado, dia 13). Depois o Steven Tyler do Aerosmith. Depois o Tiririca. Depois o Belo. Depois a Susan Boyle. Ronaldinho Gaúcho. Faustão. Amy Winehouse (apesar dos problemas dela serem mais graves).

A partir disso, percebi um padrão. E essa percepção fez com que o fato de ser feio ou bonito se tornasse obsoleto. O artista, ou aquele que aparece na grande mídia vende seu talento, aquilo que o define (é cantor, ou ator, ou apresentador), mais sua aparência. Tanto faz se é bonito ou feio, sério ou divertido. Você pode achar a Susan Boyle feia, mas tem uma voz que surpreendeu a todos. Aparência e talento. O Tiririca tem aquela aparência esdrúxula e as letras mais esdrúxulas ainda. Aparência e “talento”. O Slash combina a incrível habilidade com a guitarra e aquele visual contorcido, cheio de cabelo. Talento e aparência. O Ronaldinho Gaúcho encantou os que acompanham futebol com seus dribles e nem tanto com seus dentes salientes. A Amy Winehouse assusta com sua aparência e com sua voz que desliza tão naturalmente de dentro dela.

Me veio à memória também a Lady Gaga. No caso dela, a aparência se sobressai ao talento. Se veste de modo a tornar-se fora do comum e, ao talento, deixa as constantes repetições de sílabas: quem é que não sabe cantar po-po-po-po-poker face ou pa pa-pa pa razzi?

Surpreendentemente, só me lembrei do Michael Jackson depois de ler um texto de Daniel Piza chamado
Stones & U2 no Brasil, no site do Observatório da Imprensa, no qual ele fala sobre o pop. Tomo a liberdade de reescrever aqui um trecho do quarto parágrafo do texto: “A fama faz lindos os que não são mais que charmosos. Me lembro de uma tira de quadrinhos de Angeli em que o personagem Walter Ego acorda, se olha no espelho e se acha feio. ‘Feio como quem?’, pergunta. ‘Feio... como o Mick Jagger!’ Até para ser feio é preciso ser especialmente feio".

Deu pra entender? Há um conjunto inseparável na hora de exibir-se ao mundo. Não basta só ser feio ou belo ou só ter algo legal pra mostrar que sabe fazer. O Mick Jagger é famoso por que tem aquele fenótipo peculiar (belo eufemismo!) e fez história como vocalista dos Rolling Stones. As pessoas sempre serão aquelas que possuem aquela característica física e que sabem fazer tal coisa. E isso vai além dos famosos. Cada um tem o seu conjunto de talento e aparência que deixa aparecer aos outros. O Faustão é aquele apresentador gordinho (ou era) que não deixa ninguém falar. O Ronaldo é aquele dentuço que joga bem. E não vou mais dar exemplos. Pense em qualquer pessoa e faça esse exercício. Vai dar certo!

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